A Reserva Ecológica do IBGE (RECOR), que completa 50 anos em dezembro, é uma área dedicada à preservação e pesquisa do bioma Cerrado e toda sua complexidade. O local abriga diversos habitantes peculiares. Em regiões do Cerrado intensamente afetadas por atividades humanas, anfíbios e répteis, por exemplo, sofrem redução em sua população ou até mesmo extinção (IBGE, 2012). A conservação dessa área permite que diferentes espécies de plantas e animais tenham sua existência conservada.

Segundo estimativas, a taxa atual de extinção de espécies é de 100 a 1000 vezes mais alta do que a registrada antes do início da Revolução Industrial. Esse dado sugere que o planeta pode estar enfrentando o sexto evento de extinção em massa da história – o último, ocorrido há 65 milhões de anos, causou o desaparecimento da maioria dos dinossauros e de diversos outros grupos animais.

A RECOR abriga 34 espécies da Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção, também conhecida como “lista vermelha”, do Ministério do Meio Ambiente (3 de invertebrados, 32 de vertebrados), de acordo com as Portarias MMA nº 443, 444 e 445 de dezembro de 2014, e a Portaria MMA n°148, de 7 de junho de 2022 (DANIELI-SILVA; BERGAMINI, no prelo).

Répteis

Diversas espécies da herpetofauna (conjunto de répteis e anfíbios) habitam a RECOR. Entre os lagartos e animais encontrados no Cerrado, temos:

O camaleãozinho foi conhecido pela comunidade científica pela primeira vez em 2018, a partir de coletas feitas dentro da RECOR. Esta espécie habita áreas de vegetação mais fechada, como matas de galeria, e tem registros em poucas localidades.

Outras espécies típicas da porção centro-sul do Cerrado, como a falsa-coral (Apostolepis albicollaris), jararaquinha-do-campo (Bothrops itapetiningae), papa-aranha (Philodryas agassizii), muçurana (Rhachidelus brazili), calanguinho (Kentropyx paulensis) e o teiú-amarelo (Salvator duseni) todas presentes na RECOR e adjacências estão, provavelmente, entre as mais afetadas pela perda de hábitat no Brasil central. As áreas que protegem o Cerrado são muito relevantes para sua conservação.

A serpente Apostolepis albicollaris lembra a temida cobra-coral, mas não oferece risco aos seres humanos, pois não possui presas capazes de injetar veneno em pessoas. Alimenta-se de invertebrados e pequenos répteis e habita a Mata Atlântica e o Cerrado. Essa espécie também está na lista dos habitantes peculiares da RECOR.

Anfíbios

A RECOR também é o lar de muitas espécies de anfíbios. Dentre as mais comuns, estão: rã-cachorro (Physalaemus cuvieri), perereca-de-banheiro (Scinax fuscovarius) e sapo-cururu (Rhinella diptycha). A rã-cachorro tem um canto curto que se assemelha um pouco a um latido delicado, e pode ser encontrada cantando em grandes grupos. A perereca-de banheiro é frequentemente encontrada em banheiros, tanques e outros locais úmidos. Esses animais têm discos adesivos nos dedos que permitem que eles escalem com facilidade. O sapo-cururu também é frequentemente encontrado em áreas semi-urbanas, atraído pelos insetos que rondam luzes noturnas.

Aves

A RECOR já registrou 273 espécies de aves, o que representa 60% das espécies presentes no Distrito Federal. Em termos de conservação da riqueza de espécies, a unidade possui um valor comparável ao de outras áreas de conservação da região. Dentre as espécies encontradas, destacam-se quatro aves florestais: o tapaculo-de-Brasília (Scytalopus novacapitalis), o limpa-folha-do-brejo (Syndactyla dimidiata), o soldadinho (Antilophia galeata) e o pula-pula-de-sobrancelha (Basileuterus leucophrys).

Descoberto durante a construção da capital em 1958, o Tapaculo-de-Brasília é considerado uma espécie rara e em risco de extinção devido à destruição de seu hábitat. Esses pássaros vivem no nível do solo, escondidos entre a folhagem e a vegetação densa, especialmente em áreas ricas em samambaia e palmito-juçara. Além disso, têm hábitos rasteiros e só sobem às árvores quando precisam fugir de algum perigo.

Mamíferos não voadores

A RECOR abriga 100 espécies de mamíferos autóctones (nativos da região), sendo 67 espécies de mamíferos silvestres não voadores e 33 de mamíferos silvestres voadores. Além disso, a mastofauna (conjunto de espécies de mamíferos) nativa não voadora da RECOR inclui oito espécies ameaçadas de extinção, todas classificadas como vulneráveis. Entre elas, destacam-se:

Tatu-canastra (Priodontes maximus)

É a maior espécie viva de tatu, e pode medir mais de um metro de comprimento. Atualmente, a espécie é considerada vulnerável à extinção, principalmente devido à caça e à perda de habitat. Sua aparência é marcada pelo corpo coberto por poucos pelos e por patas anteriores dotadas de garras enormes, adaptadas para escavação. Sua dieta é composta principalmente de cupins e formigas, mas também inclui outros itens, como insetos, aranhas, minhocas, larvas, cobras e até carniça.

 

Foto 2 - Projeto Prof. Roberto Cavalcanti - Imagem captada por câmeras na RECOR, 2025.

Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla)

É a maior entre as quatro espécies de tamanduás. Diferente de seus parentes próximos, como o tamanduá-mirim e o tamanduaí — que têm hábitos arborícolas —, ele possui um comportamento predominantemente terrestre. Com um comprimento que varia entre 1,8 e 2,1 metros e peso de até 41 kg, destaca-se pelo focinho alongado e pela pelagem de padrão característico. Outra peculiaridade são suas longas garras nas patas anteriores, que o fazem caminhar com uma postura nodopedálica. Seu aparelho bucal é especializado, adaptado à dieta baseada em formigas e cupins.

Jaguatirica (Leopardus pardalis)

As jaguatiricas são animais muito habilidosos, destacando-se na escalada, no salto e na natação. De hábitos solitários e territorialistas, elas são carnívoras e passam a maior parte do dia escondidas, sendo mais ativas durante a noite. Na natureza, sua expectativa de vida é de aproximadamente dez anos.

Em termos físicos, as jaguatiricas medem entre 68 cm e 1 metro de comprimento e pesam de 8 a 16 kg. São animais ágeis e velozes: alcançam em média 50,4 km/h, podendo chegar a até 80 km/h em curtas distâncias.

 

Foto 1 - Projeto Prof. Roberto Cavalcanti - Imagem captada por câmeras na RECOR, 2025.


Onça parda (Puma concolor)

A onça-parda é o segundo maior felino do Brasil. Sua pelagem varia do marrom-acinzentado claro ao marrom-avermelhado escuro, tornando-se mais escura com a idade — os jovens têm tonalidades mais claras. Os machos adultos medem até 2,4 metros de comprimento e pesam entre 53 e 72 kg, enquanto as fêmeas atingem até 2 metros e 34 a 48 kg. Na natureza, vivem de 8 a 13 anos e podem correr a 64–80 km/h.

Diferente de outros felinos, a onça-parda não ruge: sua vocalização lembra um miado. Solitária, é vista em pares apenas durante o acasalamento. Presente em todos os biomas brasileiros, a espécie está classificada como vulnerável pelo Ministério do Meio Ambiente devido à fragmentação de seu habitat.

 

Fonte: Projeto Prof. Roberto Cavalcanti - Imagem captada por câmeras na RECOR, 2025.

Lobo-Guará (Chrysocyon brachyurus)

Habitante curioso e frequentemente visto na área, sozinho ou em grupos familiares.

São “bons de garfo” e comem de tudo (onívoros). É o maior canídeo da América do Sul, podendo atingir entre 20 e 30 kg e até 90 cm na altura da cernelha. Suas pernas longas e finas e a densa pelagem avermelhada lhe conferem uma aparência inconfundível. O lobo-guará é adaptado aos ambientes abertos das savanas sul-americanas, sendo um  onívoro, com importante papel na dispersão de sementes de frutos do cerrado, principalmente a lobeira (Solanum lycocarpum).

De hábitos crepusculares, o lobo-guará é solitário, mas divide seu território — que pode chegar a 123 km² — com a fêmea, com quem se encontra durante o período reprodutivo. A comunicação entre eles ocorre principalmente por marcação de cheiro, mas também emitem vocalizações semelhantes a latidos. A gestação dura cerca de 65 dias, e os filhotes, que nascem com pelagem preta, pesam entre 340 e 430 gramas.

Fonte: Projeto Prof. Roberto Cavalcanti - Imagem captada por câmeras na RECOR.

Referências:

DANIELI-SILVA, A.; BERGAMINI, L. L. Biodiversidade da Reserva Ecológica do IBGE. In: Mauro Lambert Ribeiro, ORG. Reserva Ecológica do IBGE: compromisso com a Biodiversidade, a Ciência e a Sociedade. Rio de Janeiro: IBGE, no prelo.