A professora e pesquisadora Hélida Ferreira da Cunha, do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu Mestrado e Doutorado Acadêmico em Recursos Naturais do Cerrado da Universidade Estadual de Goiás, levou um grupo de alunos para realizar aulas práticas de campo na Reserva Ecológica do IBGE. Ao todo, 24 pessoas foram divididas em seis grupos de estudo, com o objetivo de apresentar aos alunos diferentes metodologias de pesquisa em campo, e se hospedaram na Reserva entre 21 a 25 de outubro. Os servidores e doutores Frederico Takahashi e Leonardo Bergamini supervisionaram dois grupos, participando ativamente das atividades.
O primeiro grupo pesquisou e coletou aranhas para sua quantificação e identificação, sob orientação do professor Edwin Roqueme. Os métodos usados foram batida em arbustos, coleta de serrapilheira e busca ativa, com uma área amostral que abrangeu três fitofisionomias do Cerrado: Cerrado Stricto Sensu, Mata de Galeria e Campo Limpo. Foram encontrados 160 indivíduos, usando três métodos de coleta e a família mais abundante encontrada foi a Salticidae. Segundo os estudantes, as aranhas são bons modelos ecológicos para estudos de conservação. A Reserva do IBGE possui um ambiente com uma alta diversidade de espécies, demonstrando sua biodiversidade e boa conservação ambiental.
O segundo grupo pesquisou a diversidade zooplanctônica orientados pela Dra. Maisa Vieira. Os ambientes aquáticos da Reserva podem ser classificados em lótico (riachos e com fluxo de água) e lêntico (lago, com fluxo mais reduzido). O objetivo do grupo foi avaliar a diversidade de zooplâncton em cinco pontos de coleta: Ponto 1 - Riacho do Roncador, Ponto 2 - Riacho do Monjolo, Ponto 3 – Riacho do Pitoco, Ponto 4 – Riacho do Taquara e Ponto 5 – nascente do Roncador (lago). O microcrustáceo Alonella dadaiy foi a espécie mais encontrada nos pontos coletados. O ponto 4 – Riacho do Taquara – foi considerado o mais equilibrado em relação às espécies encontradas. No Ponto 5 – Nascente do Roncador (lago) foi encontrada maior riqueza de espécies, embora tenham encontrado similaridades entre todos os pontos. A maior diversidade de zooplâncton é esperada no ambiente lêntico (lago), por ter um fluxo de água mais reduzido, possui um habitat mais propício para diferentes nichos. Nos ambientes lóticos onde o fluxo de água é maior o zooplâncton se dispersa mais. Portanto, os resultados foram condizentes ao esperado.
Grupo conhecendo a Reserva e mapeando o campo. Foto: Acervo Reserva Ecológica IBGE.
O terceiro grupo trabalhou com morcegos, orientados pelo Dr. Marcelino Benvindo Souza. Os morcegos representam 22% da fauna de mamíferos, sendo os únicos mamíferos com voos verdadeiros e são valiosos bioindicadores de qualidade ambiental. O grupo avaliou possíveis danos do DNA e sistema imunológico dos animais analisados a partir de amostras de sangue e de células bucais, o que indicaria desequilíbrios ambientais na região. As áreas de amostragem foram o sótão do alojamento, manilhas nas laterais da estrada de acesso e sótão do bloco F (Arquivo do IBGE). O grupo mediu a poluição atmosférica dos locais onde foram coletadas as amostras. Os morcegos foram medidos e tiveram pelos, sangue e amostra de mucosa da boca coletados. Foram coletados 58 morcegos (32 foram soltos e 26 foram usados para o estudo e soltos na sequência). Três espécies foram identificadas nos locais estudados: Carollia perspicillata (frugífero), Molossops temminckii (insetívoro) e Glossophaga soricina (nectarívoro). Não foram encontradas diferenças entre as espécies avaliadas, e o nível de danosde no DNA das amostras foi considerado baixo, o que pode indicar que a Reserva é um ambiente bem preservado.
O quarto grupo estudou cupins, com participação das pós-graduandas Jheniffer Pires e Angelita, orientadas pela Dra. Hélida Ferreira da Cunha. Cupins são animais que vivem em sociedade, com diferentes castas: reis/rainhas (reprodutores), operários (alimentação e manutenção dos ninhos) e soldados (protegem a colônia). A coleta foi feita em transectos lineares em diferentes paisagens, como Cerrado Stricto Sensu, Campo e Mata. Foram identificadas gêneros das famílias Termididae e Rhinotermitidae, e na fitofisionomia da Mata havia maior diversidade de cupins.
O quinto grupo capturou abelhas em diferentes áreas, sob orientação do Dr. Leonardo Bergamini, servidor do IBGE. A padronização de métodos de estudo das abelhas, importantes polinizadores, é um passo fundamental para a produção de dados comparáveis sobre o grupo. Foram estudados os efeitos da cor das geito armadilhas, seu local de instalação (no chão ou em árvores) e da sua camuflagem, um parâmetro ainda pouco estudado. Foram instaladas ao todo 360 armadilhas em seis pontos diferentes na Reserva. Também foram demonstrados, para fins ilustrativos, outros métodos de coleta, como a busca ativa com puçá, para captura manual dos insetos, uso de iscas de essências aromáticas e ninhos-armadilha. As armadilhas se distinguiam em 3 cores de copos – azul, branco e amarelo. O copo azul atraiu mais abelhas que as outras cores, possivelmente por ser uma cor mais rara na natureza, despertando a curiosidade das abelhas. A altura das armadilhas influenciou nas quantidades de abelhas capturadas, sendo as armadilhas colocadas no chão com melhor desempenho. Ao todo, o grupo capturou 129 espécimes de abelhas nas armadilhas e 19 na coleta ativa. Interessante é que estudos realizados em outros países demonstram que armadilhas amarelas são mais atrativas para as abelhas, entretanto, no Cerrado observa-se uma atração maior pelo azul. Leonardo ressalta que o ideal é usar armadilhas com cores diferentes para ampliar o espectro de atração para diferentes espécies.
Grupo capturou abelhas em diferentes áreas, sob orientação do Dr. Leonardo Bergamin. Foto: divulgação
O sexto e último grupo, sob orientação do Dr. Frederico Takahashi, buscou avaliar a influência de árvores e arbustos (densidade, altura e tamanho da copa) e o impacto na densidade de herbáceas no solo. Também foram levantadas as coordenadas, para cruzamento com dados de sensoriamento remoto. Oito pontos amostrais foram coletados em Campo Sujo e Cerrado, cobrindo áreas com densidade baixa até bastante elevada de árvores. A abertura do dossel (quantidade de céu livre sobre as herbáceas) foi a característica mais significativa em relação à densidade das herbáceas. Entretanto, outras características podem ter influenciado nas herbáceas, como o acesso à água, por exemplo.
Grupo herbaceas, sob orientação do Dr. Frederico Takahashi. Foto: divulgação
A Reserva Ecológica do IBGE tem seu foco em subsidiar pesquisas, visitas educativas e projetos de extensão. Saiba mais em: https://recor.ibge.gov.br/