Em março de 2024, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística lançou as coleções biológicas levantadas pelos pesquisadores do instituto e colaboradores externos no Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira. Esse sistema é uma plataforma online que integra dados e informações sobre a biodiversidade e os ecossistemas de diferentes fontes, tornando-os acessíveis para usos diversos, com mais de 28 milhões de registros de cerca de 163 mil espécies cadastradas em todo país.

Entre os estudos realizados na Reserva Ecológica do IBGE, sob supervisão do Dr. Leonardo Bergamini, temos o monitoramento da fauna de abelhas. O projeto, iniciado em 2019, faz coletas in loco através de quatro técnicas: coleta ativa com puçá, coleta com pantrap (copo de isopor que simula uma flor, capturando-as em um líquido), iscas odoríferas e o ninho armadilha, onde as abelhas fazem seus ninhos e se reproduzem.

 

Foto com o ninho armadilha – Bruna Ferrari.

Das mais de 200 espécies de abelhas registradas historicamente na área, o projeto já identificou cerca de 80 desde o seu início. São produzidos dados sobre o ciclo reprodutivo, padrão de atividade, relação com parasitas e quais são as plantas visitadas por cada abelha, que ajudam a entender o papel desses insetos como agentes polinizadores das plantas.

Segundo os estudantes de biologia que atuam na pesquisa, as abelhas são as principais polinizadoras de plantas no cerrado brasileiro. De acordo com a estrutura física da abelha, ela poliniza diferentes plantas, por isso a necessidade de uma variedade tão grande na natureza, permitindo a reprodução e a variabilidade genética das plantas no meio ambiente. Os animais polinizadores também têm um papel fundamental na reprodução de várias espécies de plantas cultivadas, gerando benefícios diretos na produção da agricultura.

A Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos constatou em 2018 que das 191 culturas agrícolas utilizadas para a produção de alimentos no país que se tem conhecimento sobre o processo de polinização, 114 (60%) são visitadas por polinizadores. O diagnóstico analisou ainda o grau de dependência dos polinizadores para 91 culturas agrícolas e constatou que para 76% (69) a ação de polinizadores aumenta a quantidade e/ou a qualidade da produção agrícola em algum nível (https://www.bpbes.net.br/maioria-das-culturas-agricolas-do-pais-depende-de-polinizadores-alertam-cientistas/).

Em tempos de adversidade ecológica, como o vivido nas últimas décadas, estudos como esse são essenciais para o conhecimento das relações entre a fauna e flora do cerrado, aumentando nossa consciência sobre o ciclo reprodutivo de animais e plantas e a manutenção da harmonia entre as espécies para a conservação da biodiversidade, com um olhar especial para as abelhas, animais de grande relevância para a manutenção da vida.

Marco Antonio Uchoa, Anna Maia, Júlio César Costa e Bruna Ferrari são graduandos de biologia e atuam no projeto desde setembro de 2023, relatam que participar dos estudos na Reserva Ecológica do IBGE tem agregado muito em relação aos conhecimento práticos, complementando os conhecimentos teóricos aprendidos na faculdade. “Na prática de ir ao campo, montar as armadilhas, coletar e identificar as espécies encontradas, aprendendo o passo a passo tem sido uma ótima experiência. Fica mais fácil aplicar o método científico futuramente, quando atuarmos profissionalmente, já teremos essa base inicial experienciada na RECOR”, segundo Júlio César Costa.

Foto com alunos de biolobia da GMAG/RECOR – Michella Reis.

Propostas de educação ambiental para a sociedade estão em fase de estudo e avaliação pelos servidores da Reserva, propiciando a proliferação de informações e conhecimentos ambientais, além de divulgar os estudos realizados na Reserva Ecológica que o IBGE possui há quase 50 anos. O bioma cerrado superou as estatísticas de desmatamento quando comparado ao bioma amazônico em 2023, segundo o Inpe (Terra Brasilis). O Distrito Federal contribuiu com 0,12% dos desmatamentos registrados do bioma cerrado em 2023, com uma extensão de 383,63 km desmatada, em grande parte decorrente do processo de expansão urbana e exploração imobiliária. A região onde a Reserva Ecológica do IBGE se situa vem sofrendo grande pressão em seu entorno. Com isso, a consciência ambiental, principalmente da comunidade residente próxima a Reserva é essencial para prevenir situações que coloquem em risco a biodiversidade presente, inclusive abrindo espaço para ações voluntárias na área.

A Reserva Ecológica do IBGE tem um grande potencial científico e para parcerias com diferentes instituições, visto sua boa estrutura e preservação da área. Dessa forma, o IBGE dá retorno a sociedade de forma mais ampla, superando a lógica de levantamento de dados espaciais, econômicos e sociodemográficos. É uma área com grande potencial como unidade de conservação e educação ambiental, que vai ao encontro da Agenda 2030 e seu objetivo de desenvolvimento sustentável 15, que visa proteger as florestas, a biodiversidade e os ecossistemas.

Mais informações sobre a Reserva Ecológica do IBGE estão disponíveis no site - https://recor.ibge.gov.br/