Os pesquisadores Luiz Henrique Vieira Lima e Romane Tisserand, pós-doutorandos supervisionados pelo professor Clístenes Williams Araújo do Nascimento do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), estão utilizando as amostras do Herbário situado na Reserva Ecológica do IBGE em maio de 2024. O Herbário possui uma extensa coleção de plantas coletadas e estudadas há muitos anos por pesquisadores do IBGE e de outras instituições. Segundo o pesquisador Luiz Henrique: “É a primeira vez que esta abordagem de pesquisa está sendo realizada no país por essa equipe e conta com apoio do CNPq” (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Da esquerda para a direita: Luiz Henrique Vieira Lima e Romane Tisserand. Foto: SES/DF
O projeto aborda a prospecção de plantas hiperacumuladoras de metais, espécies raras capazes de acumular estes elementos em concentrações centenas a milhares de vezes maiores do que as plantas comuns. Essas plantas têm um grande potencial para a recuperação de áreas degradadas, contaminadas ou poluídas, além de poderem ser utilizadas em uma técnica chamada agromineração.
Segundo Luiz Henrique, os herbários são fundamentais para o estudo por possuírem milhares de amostras de plantas com alta diversidade geográfica, gerando economia de recursos financeiros, humanos e de tempo, além de reduzir os impactos ambientais envolvidos no processamento e análises químicas das plantas. A técnica utilizada para analisar as exsicatas é a Fluorescência de Raios X portátil (FRXp). Esse equipamento permite determinar as concentrações de metais nas amostras de plantas diretamente nos herbários. Assim, os pesquisadores podem viajar pelos herbários do país e analisar milhares de espécies por mês, provenientes de diversas regiões, sem a necessidade de se deslocar até os locais de ocorrência das plantas e avaliá-las in situ.
Pesquisadores utilizaram as amostras do Herbário situado na Reserva Ecológica do IBGE. Foto: SES/DF
O Herbário do IBGE é um dos mais importantes para o estudo, devido à sua vasta coleção da flora do estado de Goiás, uma região com um complexo ultramáfico extenso. As áreas ultramáficas são consideradas regiões mais prováveis para a ocorrência do fenômeno da hiperacumulação devido ao enriquecimento natural de solos por metais. O município de Niquelândia, em especial, já é bem conhecido por possuir solos com uma das maiores concentrações de níquel do planeta, onde foram identificadas algumas espécies hiperacumuladoras.
Os solos dessas áreas, chamados de ultramáficos, cobrem cerca de 3 % da superfície terrestre e são ricos em metais, especialmente níquel, cromo e cobalto. No entanto, são pobres em nutrientes como fósforo e nitrogênio. Devido a essas características, esses solos não são adequados para a agricultura, pois são tóxicos para as plantas cultivadas, o que pode causar danos à saúde da população que consome esses alimentos. Dessa forma, esses locais são mais apropriados para atividades de mineração.
Com o tempo, os custos de extração de metais em áreas mineradas podem se tornar tão elevados que a continuidade da atividade se torna inviável, levando muitas vezes ao fechamento dessas zonas extrativistas. A recuperação dessas áreas pode ser realizada com o uso de plantas hiperacumuladoras, que revegetam o solo e promovem a melhoria de seus atributos químicos, físicos e biológicos. Além disso, o uso dessas espécies na agromineração permite a recuperação de metais a partir da biomassa vegetal, proporcionando um retorno econômico. Portanto, essa abordagem representa uma utilização não convencional dos herbários para prospectar plantas que possam ser usadas de forma inteligente na gestão dos recursos naturais, contribuindo significativamente para a mitigação de impactos ambientais.
Link para entrevista da CAPES sobre agromineração: Tecnologia usa plantas na mineração e recuperação de solos